segunda-feira, 6 de julho de 2015

Estrada da Beira / Nacional 17... E agora? #estradadabeira #nacional17

álbum com a totalidade das fotos no final do post!


Este projeto começou por querer ser um álbum de memórias da velhinha nacional 17 também conhecida como Estrada da Beira (EdB), que teve e tem grande importância no desenvolvimento da nossa região. Mas com o passar do tempo passou a ser, também, um apelo à sua manutenção e conservação e mais um alerta para a desertificação do nosso interior.

Todas as fotografias foram tiradas com um única lente fixa de 35mm. À exceção de duas.

O titulo “E agora?”, veio do tema da exposição coletiva ARTIS em Seia, deste ano de 2015. A 1ª fotografia do projeto esteve exposta nessa mesma exposição.

Já todos percebemos que no curto/médio prazo não teremos ICs ou IPs, mas um grande I de ISOLAMENTO e INDIFERENÇA, por parte dos nossos governantes. Os concelhos de Gouveia, Seia e Oliveira do Hospital, tem na EdB um dos seus principais acessos, e se não for concretizada a sua manutenção, acabam por perder o pouco que ainda têm. Nos dias de hoje já é difícil lutar contra a interioridade, mas sem acessos dignos desse nome, torna-se quase impossível.

Sabiam que:


O traçado da EdB vem do tempo dos romanos.

O legado romano é visível através de pontes romanas (algumas já convertidas) e mansiones, que na época medieval se chamariam albergarias e estalagens.

Celorico da Beira, Gouveia e Seia foram três das localidades que se desenvolveram com a EdB, através das feiras; na altura a feira era o único ponto de contato entre o produtor e o consumidor; as vias de comunicação eram muito importantes para a circulação de pessoas e bens, como nos dias de hoje!

De acordo com alguns historiadores o traçado inicial começava em Coimbra para oriente até à Guarda e Pinhel, com eixos alternativos até Viseu, Lamego e Covilhã. A EdB ligava os maiores centros urbanos, procurando evitar percursos de altitude mais elevada, portanto mais difíceis, à medida que se aproximavam da serra.

Coimbra era um grande nó viário na época medieval. Por Coimbra passava o trajeto entre Lisboa e Porto, pela chamada Estrada Coimbrã, que se cruzava com a Estrada da Beira, permitindo o acesso ao interior beirão.

A ponte de Mucela é de 1298.

Hoje em dia podemos ver que algumas das localidades têm no seu nome “Venda”; ex. Venda da Serra, Venda de Galizes, eram normalmente pontos de apoio aos viajantes. Não tinham necessariamente albergarias ou estalagens, mas forneciam alimentos, água, tratamento das montadas e por vezes alojamento. Facultavam um apoio minimo aos viajantes.

Os nobres tinham garantida em algumas localidades a sua hospedagem (gratuita) junto dos grupos menos favorecidos; cama, roupa, comida, montada a todos quantos acompanhavam o detentor desse direito, o que originava muitas queixas. Havia mesmo numero de dias limite para essa estadia, mas raramente eram respeitados.

As obrigações dos responsáveis pelas estalagens; “e estas camas sejam boas e linpas e fectas em leitos e os lençoes das camas onde ouverem de dormir homeens de bestas sejam lavados hua vez na somana e os que forem das camas da outra gente de pee sam lavadas ao menos de quinze em quinze dias”. Isto é que era higiene!

A Estrada da Beira foi um dos principais itinerários do reino que, muito embora as suas raízes romanas, sofreu um reaproveitamento medieval que só por si lhe garantiu uma singularidade comparável com a chamada Estrada Coimbrã (Lisboa - Porto), hoje decalcada pela autoestrada A1.


Esta importância manteve-se até ao aparecimento dos ICs e IPs, espalhados um pouco por grande parte do país. Entretanto, a EdB volta a ganhar importância com a generalização das portagens, aumentando em muito a passagem de transportes de maiores dimensões, sendo um catalizador da degradação do pavimento.
Eu, efetuei e efetuo grande parte das viagens que fiz e faço no traçado da EdB, assim como a maioria dos habitantes de Gouveia, Seia e Oliveira do Hospital, além disso e como já referi antes, a degradação das poucas estradas de acesso que temos é mais uma achega para a desertificação desta bela região.
Com este conjunto de fotografias, quero deixar um alerta e um apelo aos nossos governantes para que olhem com olhos de ver para a nacional 17 e assim autorizem e concretizem a sua manutenção, URGENTEMENTE!

Alguns dos fatos históricos aqui referidos foram retirados do mestrado de Helena Patricia Romão Monteiro, A ESTRADA DA BEIRA: RECONSTÍTUIÇÃO DE UM TRAÇADO MEDIEVAL; disponível no endereço: http://run.unl.pt/handle/10362/8340. Como refere a autora, não é fácil encontrar informações ou bibliografia sobre as comunicações terrestres em Portugal.

álbum com a totalidade das fotos no final do post!