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Eugénio Cunha Sério, Cónego Penitenciário da Diocese da Guarda, contou que no Domingo de Ramos “não se comem verduras nem se apanham e as pessoas não vão à horta”. O costume antigo ainda é seguido “por muitos católicos”, explicando que é justificado “pela razão de que o Senhor [Jesus Cristo] se escondeu detrás dos arbustos, no Horto das Oliveiras”. “É um costume ainda praticado nas aldeias da região”, assegurou, referindo que nesse dia “as sopas são sem verduras, comem-se sopas de grão e outros pratos sem saladas”.
A tradição é seguida pelos habitantes de Vila Cova-à-Coelheira, no concelho de Seia, como confirmou a moradora Maria Gonçalves, 49 anos.
“Muita gente da aldeia ainda o faz e eu também. A minha mãe ensinou-me e pratico-o e hei-de deixar esse costume para os vindouros”, assegurou.
Salientou que naquele domingo “comem-se outros pratos onde não entra verdura, não se faz sopa de legumes”, optando “pela canja ou pelo grão”.
Também afiançou que naquele dia “nem à horta” vai buscar alimento para os animais domésticos. “Apanho a erva e a hortaliça na véspera e no Domingo de Ramos não vou à horta”.
No Distrito da Guarda também são cumpridas as tradições quaresmais dos cânticos da Encomendação das Almas (cânticos entoados durante a noite) e dos Martírios.
Sobre os Martírios, Eugénio Cunha Sério recordou que “durante os trabalhos rurais canta-se a narrativa, às vezes dramatizada, da Paixão do Senhor”. “Lá em cima no altar-mor/está um craveiro na cruz/as folhinhas que ele deita/são o sangue de Jesus. Sinto chorar no Calvário/Madanela [Madalena] quem será?/crucificam Jesus/são ais que a Senhora dá”, são versos entoados nesta quadra do ano, segundo o sacerdote.
Para incentivar a preservação da Encomendação das Almas, uma manifestação popular de carácter religioso em que um grupo de pessoas reza e canta pelas almas dos mortos, a Câmara da Guarda, organiza anualmente um encontro de grupos de cantares do concelho, que aconteceu no sábado passado na Freguesia da Faia.
O Enterro do Senhor, a Procissão dos Passos e as Alvíssaras, são outras das tradições quaresmais que ainda permanecem na região.
Nas localidades de Escalhão, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo e Almeida, “uma só cerimónia, que demora quatro horas, junta os Passos e o Enterro do Senhor” recorda o cónego Penitenciário da Diocese da Guarda.
Acrescenta que “este costume, ou esta forma de celebrar, “também aparece noutros domingos da Quaresma”, por exemplo em Carvalhal Meão (na Guarda) e Atalaia (em Pinhel).
Quanto às Alvíssaras de Nossa Senhora, indicou que significam “dar uma boa notícia”.
Eugénio Cunha Sério refere que estas manifestações de religiosidade popular “revelam que as pessoas continuam a ter muita fé”, observando que “chegam a vir pessoas de França para participar nas actividades”.
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