No principio do mês fui almoçar (muito bem, como é habitual), ao Museu do Pão.
Levei a máquina fotográfica comigo, como também já é hábito e trouxe estas fotos.
Acreditem que ao vivo é muito melhor e se depois forem almoçar ou jantar, no Museu do Pão. É a cereja no topo do bolo. Para finalizar, tomar o café, no bar/biblioteca com aquela paisagem magnifica à nossa frente. Posso dizer que fui arrancado à força, do bar.
Nas minhas pesquisas, encontrei no Jornal Seia Nova, por acaso, a entrevista que passo a transcrever algumas partes. Na cópia que tenho não consigo precisar o ano nem o autor do texto, mas o jornal foi editado entre Agosto de 1986 e Março de 1989. Portanto segunda metade dos anos 80. A pesquisa, que refiro, é sobre a história do concelho, mas ao ver este texto lembrei-me do meu amigo Luís (Oceano das Palavras e os últimos MOÍNHOS) e este é o momento para o partilhar.
MOINHOS NOS VALES
Numa pequena aldeia com cerca de 200 habitantes, perdida num vale do sopé da serra da Estrela, a 3 Km de Seia - os Vales - cortada a meio por um ribeiro, outrora ladeado por moinhos devoradores de todo o grão de trigo, milho e centeio destas paragens, e dos quais hoje nada mais resta que um amontoado de pedras, escondidas por árvores e silvas que outrora a mão do homem e os Invernos mais rigorosos iam deixando transparecer, fomos encontrar alguém que durante toda uma vida esteve ligada a uma actividade hoje quase extinta - a moagem.
Chama-se Aurora Simões, por todos conhecida por "Tia Aurora" - sentada numa pedra, apanhando os raios já desmaiados duma tarde soalheira de Outono, de preto trajada, mas já sem o enfarinhado dos tempos recuados, fez carregada por 89 anos de vida árdua, mas com um sorriso rasgado e um olhar terno e acolhedor semelhante ao de alguém que nunca sentiu a revolta por uma vida cruel. (Penso que o autor quer dizer que a Tia Aurora era feliz com a sua vida passada e presente. Vida simples, sem luxos, mas conseguiu criar e educar (educar de educação, coisa que alguns pais de hoje não conseguem) 9 filhos "...felizmente hoje estão todos mais ou menos bem.")
Seia Nova - Quando chegámos aqui alguém nos disse que esta terra foi conhecida pela "terra dos moleiros". Concorda? Quantos moinhos existiam?
Tia Aurora - Sim é verdade. Quando eu comecei (tinha 8 anos quando pela primeira vez fui à Aldeia de S. Miguel "fazer a freguesia"), quase todas as famílias viviam dos moinhos - havia nessa altura cerca de 40 moinhos. (Era o ganha pão de centenas de famílias, naquela altura, hoje em dia está em vias de extinção)
S. N. - Então a existência dos moinhos é bastante remota. Já existiam quando nasceu.
Tia Aurora - "Os moinhos já não têm era" - os meus pais já os tinham comprado a outras pessoas, por isso...
N. B. : Na realidade, tivemos oportunidade de verificar numa parede daquilo que foi um moinho, hoje sem telhado, a data de 1833...
S.N. - Disse-nos que iam "fazer a freguesia". Até onde se deslocavam?
Tia Aurora - Saíamos de manhã cedo, carregávamos a burra e o "macho" arrancando um dia para Vodra, Arrifana, S. Comba, e Aldeia de S. Miguel. De regresso, carregávamos milho e trigo para transformar em farinha e levar na semana seguinte. No outro dia era S. Martinho, S. Marinha, Passos da Serra e Moimenta - cheguei mesmo a deslocar-me a Vinhó.
...
Tia Aurora - Quando saíamos de casa já íamos preparados com um naco de pão e umas azeitonas - um pouco de toucinho por festa - era a nossa comida.
Algumas vezes lá havia alguém que tinha pena de nós e nos dava um prato de sopa.
...
Tia Auroa - Hoje até se ganhava mais algum, pois eramos poucos, mas os moinhos tinham de ser arranjados e vejam lá que, há seis ou sete anos, quando fomos falar com o "mestre da Sra. Desterro" (que era quem sabia arranjá-los), já este nos pediu 500$00 (quinhentos escudos, cerca de 2,50€), por dia, comida e bebida e buscá-lo e levá-lo à terra (na altura ficavam em mais de 30 contos (30.000$00 trinta mil escudos, cerca de 150€) - já era dinheiro. Depois o meu neto arranjou trabalho em Seia... pararam de vez) (estamos a falar da década de 80)
...
(para finalizar a entrevista conta uma história passada com ela e o seu animal, não resisti)
Tia Aurora - Foi um desses dias, quando ia "fazer a freguesia" - ao passar em Vodra - que "dois rapazolas", com ar de gozo, "vendo o macho um tanto ou quanto excitado(?)" se resolveram perguntar-me o que tinha feito ao animal.
Respondi-lhes: "Ele quando vê pan... fica naquele estado.
in WIKIPÉDIA
O termo "moinho" deriva do latim molinum, de molo, que significa moer, triturar cereais ou dar à mó. O moinho de água apareceu no século II d. C. com os gregos e os romanos, que depois o espalharam pela Europa. Serviam, como indica a sua etimologia, para moer cereais e transformá-los em farinha.
É um engenho muito simples e que foi utilizado durante praticamente dois milênios, permanecendo ainda em uso, embora tendencialmente decadente, no século XX.
Aminho Nuno obrigado por partilhar esta entrevista. De facto a realidade só pode ser vista e analisada por quem a sente e a ti aurora sentia-a com grande paixão que esta arte merece.Mt obrigado pela partilha.
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